História do Planeamento Territorial
É importante estudar a história do planeamento territorial da nossa área de intervenção e zonas adjacentes para sabermos como a malha urbana foi crescendo, com que intenções e hesitações surgiu e que impacto teve e tem no estilo de vida dos residentes. Podemos também questionar-nos acerca do impacto que o estilo de vida dos residentes tem no próprio território: se trabalham fora da zona, então estamos perante uma área preferível para residir; se têm o costume de se deslocar a pé, de carro ou de bicicleta; se gostam de um ambiente tranquilo para passear e conviver com os vizinhos ou se preferem a agitação citadina; etc. As pessoas, também elas atores do território, constroem o espaço onde vivem. As mudanças podem-se fazer a partir da iniciativa das juntas de freguesia, das câmaras e das entidades municipais ou da iniciativa própria dos residentes, como é muito comum ver as hortas cultivadas ao longo do rio Torto. É importante não esquecer a identidade do lugar, que foi sendo construída durante séculos.
Neste sentido, como é que o território foi sendo organizado ao longo do tempo?
O COMEÇO…
Rico em recursos hídricos, com um solo extremamente fértil e uma posição geográfica privilegiada, o território do atual concelho do Porto apresenta vestígios de ocupação humana desde a Pré-história – Mesolítico e Calcolítico - até à Idade do Bronze e Idade do Ferro, em áreas afastadas do centro da cidade, como Campanhã, Aldoar e Nevogilde. Certos estudos demonstram que a zona de Campanhã terá sido habitada ainda durante o período dos grandes monumentos megalíticos (III e II milénios a.C.). Mas alguns vestígios encontrados junto ao Esteiro de Campanhã e atribuídos ao Paleolítico, indicam que a ocupação da freguesia poderá ter sido anterior. Já na Idade do Ferro, existia o castro de Noeda, próximo da confluência dos rios Tinto e Torto.
Os primeiros vestígios do castro proto-histórico que deu origem à cidade do Porto, datáveis dos séculos IV-III a.C., encontram-se no morro da Sé ou da Penaventosa, com características similares a outros castros do noroeste peninsular. Nas proximidades, outros achados atestam uma ocupação que terá origem nos primeiros séculos do 1º milénio a.C. Este castro tinha ligações comerciais com o mundo romano, apresentando um nível significativo de romanização no século I d.C., provavelmente relacionado com a reorganização implantada por Augusto. Aliás, sabe-se que o primeiro grande eixo viário, denominado via XVI, que ligava Lisboa a Braga, passando pelo Porto, era uma via romana e foi construída no século I a.C. e modificada no séc. II d.C. Na fase tardo-romana, a “civitas” expandiu-se para o morro da Cividade e pela encosta da Penaventosa e atingiu a zona da Ribeira. A crescente dinâmica portuária terá reforçado o papel de Cale como polo catalisador da economia regional, surgindo as primeiras referências a Portucale. O topónimo "Campanhã", de origem latina também traduz a influência romana nesta zona. E o território atual de Gondomar foi igualmente ocupado por castros, que posteriormente foram apropriados por romanos. Contudo, a primeira referência a Gondomar, na altura um Couto, retoma a 610, aquando da ocupação visigótica.
Porto e Gondomar no século IV
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IDADE MÉDIA…
A referência mais antiga que se conhece relacionada com Campanhã surge num documento datado de 994, onde se lê, pela primeira vez, a expressão "ribulum campaniana", rio de Campanhã (o atual rio Torto).
Ao longo do tempo, o Porto foi sofrendo diversos ataques, acabando destruído em vários deles, como é exemplo o ataque, em 997, por Almansor. Entretanto, em 1062, o território do atual Rio Tinto começou-se a desenvolver com a fundação do antigo convento de Agostinhas, atual Quinta das Freiras, na altura pertencente ao julgado da Maia. Também Campanhã, no século XI, era referido como sendo a sede de uma "villa" relativamente importante, a "villa campaniana", uma propriedade rural de tradição romana, que remonta ao século IV. Esta "villa campaniana", domínio de uma velha família nobre, incluía grande parte das atuais freguesias de Campanhã, Rio Tinto e Valbom, e acolhia ainda o "Mosteiro de Santa Maria de Campanhã", a mais antiga instituição religiosa local.
No século seguinte, o couto de Rio Tinto já englobava as aldeias de Vila Cova, Ranha, Rebordãos, Quintã, Triana, Portela, Areosa, Pinheiro, Gesta, Brasoleiro, Forno, Santegãos, Carreiros, Medancelhe, Casal, Lourinha, Sevilhães, Perlinhas, Ferraria, Vendas Velhas, Vendas Novas, Cavada nova, São Sebastão, Vale de Flores, Soutelo, Mendalho, Amial e Mosteiro. No mesmo século, entre 1113 e 1114, a diocese do Porto, num vasto território que já abrangia partes de Santo Ildefonso, Paranhos, Bonfim e Campanhã, foi restaurada. A segurança que o norte obteve com a reconquista cristã em direção ao Tejo permitiu que a cidade, limitada pelas suas muralhas primitivas, se expandisse para fora das mesmas e se tornasse um centro comercial e marítimo.
O ano de 1120 marcou, entretanto, o início de um novo ciclo histórico que se revelou decisivo, não apenas para a freguesia de Campanhã, mas para todo o burgo portuense. Nesse ano, D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques, doou o território do Porto ao bispo D. Hugo, passando o burgo a ser administrado diretamente pela Sé Portucalense. Uma parte importante da freguesia foi incluída na doação, formando a partir daí o limite oriental do couto, mais tarde denominado "termo velho" da cidade. Campanhã passou a estar, assim, dividida em duas partes distintas: a área ocidental, mais próxima do centro do burgo e situada dentro dos limites do couto, e a parte oriental, pertencente ao "senhor rei" e formando, por isso, um reguengo. Esta divisão institucional definida em 1120 e confirmada pelas inquirições de D. Afonso III, em 1258, não conheceu alterações significativas até ao século XIX. Contudo, a Igreja de Campanhã assegurava a ligação, não apenas simbólica, mas também social e cultural entre as duas partes. Neste século, o Porto era uma cidade episcopal que se desenvolvia em torno de uma catedral que se tinha começado a edificar no topo do morro da Pena Ventosa, possuindo valências de defesa militar e proteção contra o inimigo para além dos motivos de culto. Este aglomerado era protegido pelas muralhas mandadas erguer, no mesmo século, pelo Bispo D. Hugo sobre as fundações de muros anteriores de origem sueva.
Também Fânzeres começava a ganhar forma nesta altura, pertencendo em 1226 às terras da Maia.
A partir do século XIV foi evidente a necessidade de uma nova muralha portuense para proteção das casas e dos negócios contra as inseguranças que chegavam por terra e por mar. Por decisão real, iniciou-se este grande empreendimento para o qual contribuíram as terras em volta do Porto: Maia, Bouças, Gondomar, Melres, Refojos do Ave, Aguiar de Sousa, Paiva e Feira. A muralha, da iniciativa de D. Afonso IV, só foi terminada no reinado de D. Fernando I, advindo daí a designação de “muralha fernandina”.
Com o seu estatuto administrativo perfeitamente definido, Campanhã assistiu nos séculos finais da Idade Média a uma expansão muito significativa da sua área cultivada, acompanhada de um crescimento bastante expressivo da população. Beneficiando das suas imensas riquezas naturais, a freguesia converteu-se lentamente numa importante reserva agrícola do burgo. Esta especialização económica desenvolveu-se ao longo da Idade Moderna, prosseguindo praticamente inalterada até ao limiar do nosso século. O comércio de bens agrícolas com as zonas mais urbanizadas da cidade intensificou-se a partir dos séculos XV e XVI, multiplicando os rendimentos dos proprietários das terras e dando origem a numerosos conflitos jurídicos entre si, a propósito dos limites e direitos associados a cada domínio.
Muralhas do Porto segundo o Dr. Carlos Passos sobre a Planta da Cidade de 1839
Porto e Gondomar no século XV
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IDADE MODERNA…
Do mosteiro que caracterizava e dava importância ao couto de Rio Tinto, extinto em 1 535, nada resta atualmente. Foi na mesma altura que Rio Tinto passou a pertencer ao extinto concelho de Aguiar de Sousa.
O século XVI foi um momento de viragem na expansão urbana do Porto, apesar de manter um certo cariz rural, com os seus quintais e campos de cultivo. O desenvolvimento comercial e da construção naval proporcionou um crescimento demográfico que não suportou o limite imposto pela muralha fernandina, pelo que houve uma expansão extramuros para uma área ainda mais rural. Em 1687, Campanhã contava 1 381 habitantes, sendo a agricultura a atividade mais importante da freguesia.
Entretanto, ao longo dos séculos XVII e XVIII, houve diversas modificações na delimitação de algumas localidades, como Melres, Rio Tinto, Lomba e São Pedro da Cova, o que fez variar a forma do concelho de Gondomar, ao qual também já pertenceram as freguesias de Avintes (hoje pertencente a Vila Nova de Gaia) e Campanhã (pertencente ao Porto).
Durante o século XVIII, surgiram as quintas e os solares de veraneio das grandes famílias burguesas e nobres da cidade do Porto. As quintas do Freixo, de Bonjóia, da Revolta, de Furamontes e de Vila Meã são alguns casos bem representativos do luxo e do requinte arquitetónico que caracterizavam estes solares. A sua presença imprimiu um caráter muito próprio à paisagem e identidade da freguesia, especialmente ao vale de Campanhã. Campanhã contava, então na altura, 2169 habitantes e o couto de Rio Tinto, uns anos mais tarde, 2 675 habitantes. Também durante este século, com a intervenção de João de Almada e Melo, as muralhas medievais portuenses foram sendo demolidas permitindo a expansão da cidade. Durante este período, procurou-se solucionar os principais problemas ao nível da malha urbana, influenciados pelo aparecimento de novos bairros não planeados, a necessidade de pavimentação de ruas, aquedutos e fontanários em ruína e uma necessidade de construção e requalificação de praças e novos arruamentos. A cidade passou a ser planeada e a crescer de forma organizada em oposição à malha urbana que crescia organicamente durante o período medieval. Durante esse século, as principais ações urbanísticas e os investimentos levados a cabo no Porto centraram-se na zona ocidental e central da cidade.
Cidade do Porto por W. B. Clarke, em 1833
A cidade do Porto foi evoluindo progressivamente, sendo que, em 1851, surgiu a primeira experiência da iluminação pública a gás, alastrando-se 4 anos mais tarde a toda a cidade, incluindo as freguesias agrupadas ao concelho e as recém-criadas, como a do Bonfim.
Foi também nesta altura que se começaram a definir melhor os limites entre os dois concelhos: Porto e Gondomar. Em 1867, deu-se a criação do concelho de Rio Tinto, do qual faziam parte sete paróquias civis: Águas Santas, Covelo, Gondomar, S. Pedro da Cova, Rio Tinto, Valbom e Valongo. Contudo, no início de 1868, a lei que possibilitava a criação desse novo concelho foi anulada, restabelecendo-se o concelho de Gondomar, que, no mesmo ano, passou a incorporar as freguesias de S. Cosme, Valbom, Fânzeres, Jovim, Foz do Sousa e Medas.
Cidade do Porto por Telles Ferreira, em 1882
A revolução dos transportes, sinal de progresso e modernização, impulsionou o desenvolvimento industrial do território em questão, particularmente em Campanhã. Em 1872, já circulava o “americano”, carruagem puxada por tração animal sobre carris de ferro que, em 1874, passou a ser de tração a vapor. Em 1875, já era possível viajar de comboio desde Campanhã (Estação Sucursal de S. Roque da Lameira) até Braga, através da Linha do Minho, ou até Penafiel, através da Linha do Douro. Em 1877, foram inauguradas a ponte de D. Maria Pia e a Estação de Campanhã (construída da zona da Quinta do Pinheiro), assegurando a ligação do caminho-de-ferro para sul. O alargamento da oferta de meios de transporte e a construção da estação promoveram a deslocação de grandes quantidades de mão-de-obra do interior do país para o Porto e, sobretudo, para Campanhã e para o seu vale. A grande disponibilidade de mão-de-obra favoreceu, por sua vez, a implantação de novas fábricas, sobretudo nas proximidades da estação, num movimento contínuo ao longo de todo o século XIX e das primeiras décadas do século XX. Por outro lado, a crescente afluência de pessoas a Campanhã conduziu ao redesenho das estruturas do alojamento. Face ao seu reduzido poder de compra, os operários concentraram-se em "ilhas" e "pátios", dois tipos de construções que se transformaram numa das marcas mais importantes da paisagem física e social da freguesia. A Estação de Campanhã passava, deste modo, a ser o término da linha ferroviária de Lisboa (até à data a ligação terminava em Vila Nova de Gaia nas Devesas), impulsionando as trocas comerciais entre o Porto e o sul de Portugal e a concentração da atividade industrial neste local, em muito alicerçada na facilitação do acesso das novas fábricas às matérias-primas e na rapidez e agilização do escoamento dos produtos acabados.
Montagem da Planta de Telles Ferreira, de 1892, na Área Plano
Porto e Gondomar no final do século XIX
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Já em 1889, começou a ser construída a nova cerca do Porto, a Circunvalação, para funcionar como barreira fiscal. Esta barreira desapareceu em 1943, ficando apenas símbolo divisório entre o Porto e os concelhos vizinhos, aos quais foram retiradas as freguesias de Nevogilde, Aldoar, Ramalde e Paranhos.
A instabilidade e a crise social e económica que se sentia no século XX permitiram a instalação, a 28 de maio de 1926, de um regime ditatorial, o Estado Novo. Este regime foi o responsável pela implementação de diversos novos planos urbanísticos, principalmente a nível habitacional. Planificados em 1933 e construídos geralmente a partir de 1934-36, os bairros de casas económicas são símbolo deste crescimento urbanístico e estão bastante presentes em ambos os concelhos, por exemplo, no bairro de casas económicas de São Roque da Lameira, em Campanhã.
Rede do elétrico, em 1930
No início do século XX, a freguesia de Campanhã detinha ainda uma fisionomia e um traçado marcadamente rural, com a transformação dos caminhos rurais (com características débeis para sustentar muito trânsito) em artérias principais de grande débito, mantendo-se o perfil inadequado às necessidades e de acordo com as condicionantes topográficas, de que é exemplo a rua do Freixo. Num misto de diferentes bairros, Campanhã assistiu a um novo crescimento nas décadas de 50 e 60. Nessa altura, a cidade estava tendencialmente a expandir-se para oriente. A freguesia converteu-se numa das zonas preferenciais para a construção de bairros de iniciativa camarária e a sua população registou então um acréscimo extraordinário. Ao mesmo tempo, assistiu-se à diminuição do papel da indústria como principal atividade económica, substituída progressivamente pelas áreas ligadas aos serviços. Apesar do crescimento populacional e urbanístico que se fez sentir do princípio do seculo XX, gerado pela chegada de população de zonas interiores do país que se deslocava para a cidade do Porto em busca de trabalho, a freguesia de Campanhã nunca se assumiu como local de paragem, nem como um polo urbano e aglutinador de atividades centrais, não se desligando da sua matriz rural.
Fotoplano da cidade do Porto, em 1958
Acompanhando a evolução ocorrida no conjunto das cidades portuguesas, o processo de desindustrialização teve um impacto visível na zona oriental da cidade, que se tornou mais evidente a partir da década de 80 do século passado quando muitas unidades se transferiram para os municípios da periferia, motivadas pelas dificuldades de circulação no tecido urbano de veículos pesados, pela incapacidade de modernização e expansão da construção e pela maior preocupação ambiental das cidades. O processo de desindustrialização de Campanhã conduziu a uma diminuição significativa do emprego neste local. A população, com baixos níveis de qualificação e cada vez mais envelhecida, não foi capaz de encontrar novas oportunidades de emprego, num contexto económico e social particularmente adverso. Esta conjugação negativa contribuiu para a fragilização do tecido social e para a fragmentação urbana, em muito alicerçada no êxodo da população para outros locais, na degradação e obsolescência do tecido industrial, na construção de infraestruturas pesadas e na orografia particularmente complexa do território.
Situação Industrial, na década de 1970
Em 1985, a forma do concelho de Gondomar foi finalmente estabilizada, com a criação da Freguesia de Baguim do Monte. Fânzeres foi elevada à categoria de Vila em reunião plenária da Assembleia da República de 30 de Junho de 1989.
Em 2011, foi inaugurada a sexta linha do metro do Porto que liga a Senhora da Hora a Fânzeres. Em 2019, inaugurou-se o Parque Urbano de Rio Tinto.
IDADE CONTEMPORÂNEA…
Com o século XIX, chegaram as destruições provocadas pela guerra. Primeiro com as invasões napoleónicas (1809), que deixaram um rasto de devastação ao longo do concelho do Porto e arredores, bem patente no saque da Igreja de Campanhã. E, depois, com a guerra civil (1832-34) e o cerco à cidade do Porto. O balanço trágico das perdas incluiu, segundo relatos da época, árvores derrubadas, vinhas destruídas, campos incendiados, casas e muros demolidos e danos irreparáveis em equipamentos industriais. Mas o século XIX, apesar das dificuldades das primeiras décadas, representa também um período de crescimento e prosperidade. A reconstrução da cidade passou a ser uma prioridade nacional, tendo havido uma série de transformações urbanísticas, sociais e políticas a partir dessa altura. Em 1836, implementou-se a reforma administrativa planeada por Mouzinho da Silveira, na qual diversas freguesias da Maia passaram a estar incorporadas nos concelhos vizinhos, tal é o caso de Rio Tinto, em relação a Gondomar. Também Campanhã passou a estar incorporada no perímetro administrativo do Porto. Campanhã teve um aumento muito significativo da população e uma rápida ampliação da sua estrutura industrial. Assim, a par das indústrias tradicionais, como a moagem e a tecelagem, que registavam um forte desenvolvimento, surgiram novos investimentos e diversificaram-se, cada vez mais, os ramos de atividade. Um pouco por toda a freguesia apareceram fábricas e oficinas que se dedicavam à marcenaria, à produção de cal, ao fabrico de fósforos de cera, palitos, trabalhos em filigrana, à destilaria, à saboaria e ainda aos curtumes.
Campanhã | Barreiras urbanas (acessibilidades e infraestruturas de transporte)
ATUALIDADE…
O Porto, o principal centro económico, universitário e cultural da Região Norte, desempenha um papel vital na estruturação do sistema urbano do noroeste peninsular e ocupa uma posição relevante em diferentes escalas territoriais.
Hoje, Campanhã continua repartida entre o seu passado de tradição rural, que ainda permanece vivo na paisagem e em muitos aspetos do quotidiano, e os traços cada vez mais visíveis da modernidade. A freguesia caracteriza-se por ser uma área com uma grande diversidade funcional e morfológica em resultado das inúmeras transformações físicas e sociais ocorridas ao longo do tempo. A forma e a estrutura urbana que hoje se encontram em Campanhã não são mais do que reflexo do seu percurso histórico, em resultado de uma fusão de áreas residenciais e industriais em articulação com os vestígios de antigas quintas e terrenos agrícolas. É um território marcado pelas dinâmicas associadas à Estação de Campanhã, pelas grandes unidades industriais desativadas, por zonas de habitação degradadas e por um tecido urbano espartilhado por canais de infraestruturas viárias de âmbito metropolitano ou mesmo nacional. A Via de Cintura Interna (VCI), concluída na década de 90, a construção da Ponte do Freixo e a execução do troço de ligação ao nó de acesso à A3/A34, foram obras marcantes na cidade do Porto, mas que acentuaram o já existente efeito barreira criado pela linha de comboio. O conflito existente entre as novas infraestruturas e funções que a área tem vindo a albergar e o tecido urbano pré-existente, gera hoje disfunções que condicionam e descaracterizam o território. Porém, este território não se destaca só pelos seus problemas urbanísticos e sociais, pois estas novas infraestruturas, combinadas com a existência de áreas com elevado potencial de requalificação, constituem também importantes oportunidades para o desenvolvimento da freguesia e para a localização de polos de atividades qualificados. Representa, pela sua localização, pela existência de grandes unidades cadastrais desaproveitadas, pela possibilidade de articulação qualificada ao resto da cidade e interligação ao rio Douro e ao Parque Oriental, pela decisão do Município de aqui construir e consolidar um importante interface intermodal de transportes da cidade e da área metropolitana e de instalar um polo de empresas criativas e tecnológicas e de cultura (antigo Matadouro), uma oportunidade para enquadrar operações urbanísticas capazes de fomentar novas dinâmicas económicas, sociais e culturais.
Rio Tinto, uma das freguesias com ligação à rede ferroviária, apresenta o maior crescimento urbano, também devido à associação com a sua inserção na continuidade urbana do Porto.